Conird aponta oportunidades e desafios da agricultura irrigada

O vice-presidente internacional de irrigação da Valmont Global Irrigation, Bernhard Kiep, encerrou a programação do XX CONIRD (Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem), na noite de ontem (08/12), com uma palestra enfática sobre os obstáculos enfrentados pela agricultura irrigada no Brasil. Kiep salientou que falta bom senso a vários setores da sociedade brasileira, no que diz respeito ao correto entendimento do que vem a ser a agricultura irrigada e sua importante contribuição para a produção mundial de alimentos. “O produtor rural que utiliza a irrigação é visto como um bandido no Brasil”, afirmou.
O vice-presidente da Valmont também falou sobre a utilização de irrigação em outros países, citando em especial o exemplo do Nebraska, estado norte-americano que investe maciçamente em irrigação. O estado possui 145 mil pivôs de irrigação, que no último ano contribuíram com a produtividade de aproximadamente 500 mil novos hectares irrigados. Kiep também citou outros países com pouca expressão no agronegócio mundial, como China e países da União Europeia, mas que investem em agricultura irrigada para ampliar a produção.
Já o Brasil, que tem um amplo potencial de crescimento da agricultura irrigada, (estima-se que mais de 30 milhões de hectares de terras estejam aptas a implantar a agricultura irrigada, mas apenas aproximadamente entre 4,5 e 5 milhões de hectares de terra utilizam a agricultura irrigada) ainda sofre com a falta de investimentos e a burocracia neste setor.

O evento contou ainda com uma série de palestras que abordaram os desafios e potencialidades da irrigação.

No dia 07 de dezembro, os participantes do evento foram divididos em dois grupos distintos. O primeiro grupo visitou a Fazenda Boa Fé do Grupo Ma Shou Tao, em Conquista/MG, onde conheceram o sistema de pasto irrigado e também irrigação para cana-de-açúcar e grãos. No local, eles foram recebidos pelo engenheiro agrônomo Jonadan Ma, titular da fazenda Boa Fé, que falou sobre os conceitos e aplicações da irrigação adotadas pelo grupo. Jonadan lembrou que quando o projeto de irrigação de pastagens foi implantado, a intenção era viabilizar a pecuária leiteira como um todo.  Há cerca de dez anos, o grupo deu início ao projeto de pastagem irrigada em 25 hectares visando a viabilização da atividade leiteira, redução dos custos de produção, aumento da receita líquida por hectare e exploração da atividade com lucratividade. 
Os bons resultados do grupo após a inserção da tecnologia despertaram a atenção até mesmo de tradicionais produtores de leite da Nova Zelândia, que em 2002 estiveram no Brasil para conhecer o empreendimento, que produz 6 mil litros de leite por dia e onde a média de produtividade por hectare/ano chegou a 14.824 kg de leite em 2009.
O segundo grupo de congressistas teve contato com a irrigação na olericultura na Ecco Cenouras, onde há a produção de cenoura, de batata, cebola, beterraba, através da irrigação por meio de pivôs. Na Ecco Cenouras, entre uma plantação de milho irrigado e uma área prestes a receber o plantio de cebola, os participantes assistiram a uma palestra do engenheiro agrícola da Valmont / Valley, Carlos Augusto Ferreira, que falou sobre o software Valley Base Station 2 – SM. O software permite monitorar e controlar equipamentos de irrigação a partir de uma estação base via computador e rádio, como se o controlador estivesse no campo. Este software controla pivôs, pontos de sensor de umidade, pontos de estação de bombeamento e até mesmo abertura e fechamento de válvulas. “A Valmont tem trabalhado para melhorar o sistema de aplicação de água, ao fornecer suporte e treinamento aos produtores e investir em novas metodologias e tecnologias, como o caso do dispositivo VRi, que encontra-se em fase de testes nos Estados Unidos, e tem por objetivo fazer com que o emissor emita água na quantidade ideal após um monitoramento do campo”, explicou Ferreira. Atualmente, os aspersores dos pivôs de irrigação detêm tecnologia tão avançada que através deles é possível modular até mesmo o tamanho das gotas que sairão dos equipamentos. “Cada aspersor tem uniformidade própria e em cada tipo de cultura é possível ter opções para o melhor padrão de gota, por exemplo. Desde gotas maiores até menores, necessárias no processo de germinação mais delicado. Isso mostra que o pivô está cada vez mais eficiente”, esclareceu o engenheiro agrícola. O almoço do dia de campo na Ecco Cenouras foi oferecido aos congressistas pela empresa Senninger Irrigation.
Já as oficinas realizadas na manhã do dia 08 de dezembro, na sede do IFTM (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro), também foram outro ponto alto do evento. Nelas, os congressistas puderam ter acesso às principais novidades e informações sobre agricultura irrigada com vistas às boas práticas e à maior sustentabilidade do produtor rural, perspectivas de planos e programas de apoio e fomento para a agricultura irrigada, sistemas de produção de grãos irrigados: alternativas, manejo, rotações e sequências de culturas, culturas energéticas irrigadas, pastagens irrigadas e a gestão necessária para a racional intensificação das explorações e olericultura e fruticultura irrigada. Na oportunidade, os participantes puderam tirar dúvidas e conversar com especialistas de cada segmento.
A vigésima edição do congresso foi avaliada como bastante positiva pelos organizadores, dentre eles, o presidente da ABID (Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem), Helvécio Saturnino. Para os estudantes e produtores rurais que participaram do encontro, o congresso serviu mais uma vez como excelente momento para troca de informações e experiências. Este foi o caso do citricultor Armando Henrique Martensen, com fazenda localizada no município de Conceição das Alagoas/MG, onde há 22 anos se dedica ao cultivo de laranja. Atualmente, a propriedade produz nove tipos de variedades da fruta em 340 hectares. Armando conta que apesar do reduzido potencial hídrico da região onde a fazenda está situada, decidiu começar a trabalhar com irrigação apartir de 2011 para atender a demanda do varejo com maio qualidade. Antes da crise econômica de 2009, Armando vendia toda a sua produção para a indústria de sucos. Mas a partir de 2009, mudou o foco do negócio e começou a vender exclusivamente para o varejo.
Com a utilização de irrigação, Armando espera não só melhorar a produtividade do pomar, mas também a qualidade das laranjas produzidas. Ele e o filho Armando H. Campedelli Martensen começarão a utilizar um sistema de irrigação por gotejamento já em janeiro de 2011. A expectativa deles é de que a produção aumente até 30%. Atualmente, eles produzem 150 mil caixas de laranja com 40,8 quilos cada uma por ano. Pai e filho investirão R$ 300 mil reais para implantar o sistema. O mesmo será financiado através de linhas de custeio agrícola. “Participar do XX CONIRD foi fundamental para termos certeza que estamos fazendo um bom investimento. Os conselhos do Dr. Alysson Paulinelli, que afirmou que o governo está disposto a facilitar os mecanismos de acesso à irrigação, bem como o feedback das empresas do setor, que disponibilizam informações para os produtores foi muito importante”, avalia Armando H.  Campedelli Martensen.
O XX CONIRD teve início no dia 06 de dezembro, no Centro de Eventos da ABCZ, em Uberaba/MG e foi realizado pela ABID (Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem). A iniciativa para a realização deste XX CONIRD conta com a união de esforços da ABID-Icid, do Governo de Minas, da Csei-Abimaq, da Prefeitura Municipal de Uberaba através da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo e Secretaria Municipal da Agricultura, Grupo Ma Shou Tao, Emater, Epamig, Sindicato Rural de Uberaba, Fazu (Faculdades Associadas de Uberaba), Iftm e Uniube (Universidade de Uberaba), ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), de empresas do setor, como a Valmont, John Deere Water, NaanDanJain Brasil, Irriger, Raesa, Lindsay e outras como Puro Café, FENICAFÉ e Nextel. O congresso contou ainda com a participação de instituições federais importantes, como a Embrapa, a ANA, Universidades, a SIH-MI e vinculadas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Sistema Ater–SAF e o Ministério de Ciência e Tecnologia.

Mais informações: www.abid.org.br

Fonte: Ascom/Laura Pimenta

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